O SAPO
Era uma vez um lindo príncipe por quem todas as moças se apaixonavam.
Por ele também se apaixonou uma bruxa horrorosa que o pediu em casamento.
O princípe nem ligou e a bruxa ficou muito brava.
“Se não vai casar comigo, não vai se casar com ninguém mais!”
Olhou fundo nos olhos dele e disse: “Você vai virar um sapo!”
Ao ouvir esta palavra o príncipe sentiu até estremecer. Ficou com medo. e Acreditou.
E ele virou aquilo que a palavra de feitiço tinha dito. Sapo. Virou um sapo.
Bastou que virasse sapo para que se esquecesse de que era príncipe.
Viu-se refletido no espelho real e se espantou: «Sou um sapo.
Que é que estou fazendo no palácio do príncipe?
Casa de sapo é charco.”
E com essas palavras pôs-se a pular na direção do brejo.
Sentiu-se feliz ao ver lama. Pulou e mergulhou.
Finalmente de novo em casa.
Como era sapo, entrou na escola de sapos para aprender as coisas próprias de sapo.
Aprendeu a coaxar com voz grossa. Aprendeu a jogar a língua pra fora para apanhar moscas distraídas.
Aprendeu a gostar do lodo. Aprendeu que as sapas eram as mais lindas criaturas do universo.
Foi aluno bom e aplicado. Memória excelente. Não se esquecia de nada. Daí suas notas boas.
Até foi o primeiro colocado nos exames finais,
o que provocou a admiração de todos os outros sapos, seus colegas, aparecendo até nos jornais.
Quanto mais aprendia as coisas de sapo, mais sapo ficava.
E quanto mais aprendia a ser sapo, mais se esquecia de que um dia fora príncipe.
E ele era tão bom aluno, tão bem educado, mas passava por períodos de depressão, de baixa.
Uma tristeza inexplicável, pois a vida era tão boa,
tudo tão certo: a água da lagoa, as moscas distraídas, a sinfonia unânime da saparia, tudo de acordo…
O sapo não entendia. Não sabia que sua tristeza nada mais era que uma indefinível saudade de uma beleza que esquecera.
E ele procurava que procurava, no meio dos sapos, a cura para sua dor.
Inultimente. Ela estava em outro lugar.
Mas um dia veio o beijo de amor – e ele se lembrou de quem ele era. O feitiço foi quebrado.